11 min para ler
CESAR .
Publicado em: 06 de maio de 2025
Tecnologia
Futuro da tecnologia em debate: IA, energia e cibersegurança no Web Summit Rio 2025

Durante três dias, o Web Summit Rio 2025 transformou o Rio de Janeiro em um dos principais palcos globais de inovação e tecnologia. O evento reuniu mais de 30 mil participantes, entre investidores, líderes empresariais, corporações internacionais, especialistas e empreendedores, para discutir os temas que moldam o futuro da tecnologia.
Entre os principais destaques estiveram:
- O desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA) voltada para soluções sustentáveis
- A transição energética e o fortalecimento das tecnologias limpas
- Soluções tecnológicas com impacto social positivo
- A promoção da diversidade e inclusão no setor de inovação
Os debates aprofundados no Web Summit Rio geraram novas oportunidades de negócios e ofereceram insights para discussões que já fazem parte do presente, embora projetem o futuro.
A presença estratégica do CESAR no Web Summit
Como o mais completo centro de inovação e conhecimento do Brasil, o CESAR teve participação estratégica na programação, apresentando iniciativas de destaque e os resultados do primeiro ano de operação do CISSA, o Centro de Competência Embrapii em Segurança Cibernética. Estivemos no palco principal do evento e compartilhamos como nossas soluções de impacto, tecnologias avançadas e abordagem centrada em design estão redefinindo o futuro digital. Também conduzimos masterclass sobre inovação de ponta a ponta no setor financeiro e exibimos o Batom Inteligente desenvolvido pelo Grupo Boticário, em parceria com o CESAR, a Neurobots e a Embrapii.
Confira algumas das principais tendências e debates mapeados por nossos especialistas durante o evento:
💡IA na era Agentic: novo paradigma tecnológico
Dentro da extensa programação, que somou mais de 400 palestras, um tema ganhou diferentes abordagens, mas uma em especial merece ser evidenciada entre os principais insights: a IA foi discutida sob a ótica atual da era “Agentic”. No palco principal do Web Summit, Marcio Aguiar, Executive Director da Nvidia, ressaltou o quanto a Inteligência Artificial, após as fases perceptiva e generativa, pode transformar o potencial tecnológico em valor de negócio.
“Conforme temos mais dados e mais ideias sobre as possibilidades de uso desses dados, precisamos de um escalonamento do pré-treinamento da tecnologia. É necessário preparar o seu conjunto de dados para as necessidades da sua empresa”.
Márcio Aguiar
🔗 Leia também: CESAR no NVIDIA GTC 2025: confira resumo do evento e tendências do setor
O que é IA Agentic?
A IA Agentic é baseada em agentes autônomos, capazes de executar tarefas complexas com base em dados e objetivos previamente definidos. Para Aguiar, é fundamental ter um plano que expanda o uso da IA para além dos departamentos de TI, ampliando o uso estratégico para as demais áreas das organizações.
Próximo passo: a IA Física
O futuro já aponta para o próximo passo: a IA Física, com robôs que interagem e colaboram ativamente com seres humanos na execução de tarefas cotidianas.
💡Inovação no setor elétrico: transformação estratégica e sustentável
Monica Magalhães, Chief of Strategy da Disrupta, e Rafaella Fatureto, Innovation Sr Manager da EDP Brasil, apresentaram uma reflexão atualizada para o setor energético: a inovação está impactando não apenas o consumo, mas a própria definição de energia como produto.
Por muito tempo, a inovação no setor energético esteve centrada em ganhos de eficiência. Hoje, ela atua de forma mais ampla e estratégica, promovendo uma transformação dupla:
- A tradicional transição energética, com foco em fontes renováveis
- Uma mudança de percepção, em que energia deixa de ser apenas uma commodity e passa a ser vista como tecnologia
Iniciativas de inovação não se limitam mais à automação ou redução de perdas. Elas abrangem melhoria na relação com o consumidor, soluções de impacto socioambiental e sustentabilidade como valor estratégico.
No Brasil, 85% da eletricidade gerada vem de fontes renováveis, um valor muito acima da média global. Considerando toda a matriz energética, o índice de renovabilidade do país é um dos mais altos do mundo.
No entanto, as palestrantes fizeram um alerta: é preciso evitar a acomodação e continuar investindo em tecnologias para transição energética, sem dependência de fatores climáticos para o abastecimento de hidrelétricas.
Escala e velocidade
De acordo com Rafaella Fatureto, cerca de 70% da redução necessária nas emissões de CO₂ pode ser alcançada com soluções que já estão disponíveis no mercado. O maior desafio, portanto, não é desenvolver inovações inéditas, mas sim ampliar o alcance e acelerar a implementação do que já foi criado e validado.
💡Inovação centrada no consumidor no setor elétrico
O painel “Impulsionando a inovação no setor elétrico” contou com a participação de Luís Castro Henriques, General Partner da EDP Ventures, e Giancarlo Vassão de Souza, COO da Neoenergia. A conversa ampliou o debate sobre como novos modelos de negócio, descarbonização e digitalização estão moldando um futuro energético mais sustentável, resiliente e orientado ao cliente.
Se antes os contratos de concessão se baseavam em indicadores médios de desempenho, novas diretrizes regulatórias estão abrindo espaço para atendimentos mais personalizados, considerando as necessidades específicas de diferentes perfis de consumidores.
Ou seja: a inovação no setor elétrico não é apenas uma questão de tecnologia, mas também de mudança cultural e regulatória, colocando o consumidor final no centro da transformação.
💡Futuro da mobilidade: foco em carros elétricos e transição energética
O painel sobre o futuro da mobilidade automotiva em um cenário de emergência climática reuniu representantes de empresas que estão à frente da transição energética no setor.
Stephani Pinter (Banco BV)
Ressaltou o compromisso do banco com a democratização do carro elétrico e compensação total de emissões da frota financiada.
Júlio Balbinot (Arrow Mobility)
Desmistificou o uso de baterias recicláveis e a durabilidade dos veículos elétricos.
Tiago Hipólito (99)
Destacou o uso de dados e tecnologia para promover a mobilidade sustentável, como a categoria EletricPro e a Aliança pela Mobilidade Sustentável.
Tendências e desafios
- Em 2023, mais de 14 milhões de veículos elétricos foram vendidos globalmente
- Previsão de 1 milhão de elétricos no Brasil até 2030
- Desafios atuais: custo de aquisição e a infraestrutura de recarga ainda limitada
- Iniciativas de reuso de baterias contribuem para aumentar a sustentabilidade no setor
🔗 Leia também: Tendências em tecnologia para carregamento de veículos elétricos
💡Transformação digital na indústria
Na indústria e no setor financeiro, a inovação focada na experiência do consumidor e na descentralização tecnológica, com forte integração entre diferentes áreas organizacionais, estão entre as principais prioridades estratégicas.
Durante a masterclass “How to generate tangible value from innovation”, Augusto Branco, Innovation Manager da Gerdau, apresentou a jornada da empresa rumo à eficiência operacional, estruturada em três ciclos: letramento tecnológico, formação de um time dedicado e disseminação de uma cultura digital coletiva.
“É importante que, culturalmente, a gente traga as pessoas para esse ambiente de inovação, para que as coisas realmente aconteçam. (…) A área de TI existe para contribuir com os resultados da organização, mas a necessidade e a usabilidade da inovação estão nas áreas de negócio”.
Augusto Branco
Essa experiência da siderúrgica também envolve a otimização do uso de matéria-prima, priorizando práticas sustentáveis, como reciclagem e melhorias na cadeia de suprimentos. Nesse contexto, gêmeos digitais permitem prever falhas operacionais, aumentar a segurança na fabricação do aço, melhorar a eficiência dos processos e aprofundar o conhecimento sobre o negócio.
🔗 Leia também: Digital Twin: entenda seu conceito na Indústria 4.0
A abordagem baseada na inovação tecnológica e formação de talentos também guia a atuação do CESAR junto a grandes empresas da indústria e setores estratégicos da economia.
Enquanto a indústria passou a buscar na transformação digital uma alternativa para maior proximidade com o cliente, o setor financeiro tem redefinido o relacionamento com os usuários a partir da personalização. No centro da discussão sobre esse tema, promovida durante o Web Summit Rio, estiveram Bruno Franco, responsável por Inovação Aberta e Corporate Venture Capital no Banco BV; Bruno Dinato, sócio da Weme; e Felipe Castro, fundador da Friday AI. Eles apresentaram o conceito de Daily Banking, uma abordagem sobre como a experiência financeira está cada vez mais integrada de forma fluida à rotina das pessoas.
“O setor bancário está seguindo o caminho dos serviços de streaming, que personalizam suas recomendações com base no comportamento do usuário. É isso que os clientes também esperam de suas experiências financeiras”
Bruno Dinato
💡O papel da IA e do Open Finance
Para Felipe Castro, a IA está se tornando mais proativa e integrada ao cotidiano bancário, permitindo soluções personalizadas e automatizadas. A digitalização acelerada da economia e a ampliação dos canais de atendimento exigem diferentes níveis de segurança e uma abordagem mais responsiva para atender às novas expectativas dos consumidores.
Além da inovação tecnológica, a conversa destacou o papel das regulações do Banco Central e de iniciativas como o Open Finance para ampliar as possibilidades de personalização e competitividade no setor. Ao integrar Embedded Finance, quando empresas de outros setores passam a oferecer serviços financeiros, a tendência é que a fronteira entre o banco e outras plataformas se torne cada vez mais tênue.
💡Inovação orientada por design
Na masterclass “Banking reimagined: design-driven innovation in finance”, promovida pelo CESAR, especialistas do Banco do Brasil (BB), da Caixa e da Cateno foram convidados a discutir como o design e a inovação tecnológica de ponta a ponta estão redefinindo o setor bancário tradicional no Brasil.
“No CESAR, usamos técnicas de design e conversa com o usuário para investigar profundamente as suas dores. Isso nos permite desenvolver soluções mais rápidas, ajustadas à realidade e com impacto real”.
Lauro Elias Neto, diretor executivo do CESAR
- O Brasil tem se consolidado como uma referência de tecnologia no setor financeiro com iniciativas como o PIX
- Das transações feitas no país, 80% são feitas em canais digitais (Febraban)
- Apesar de 93% das transações dos clientes do BB serem realizadas no campo digital, essa jornada não é linear e passa por diversos canais
Rodrigo Salgado, da Caixa Econômica Federal, abordou a perspectiva do design focado nas pessoas: “quando você fala de designer, você fala de ser humano. A Caixa tem um olhar muito forte para o ser humano, desde o início da sua atuação”.
O uso da IA pelo banco se dá como ferramenta de inclusão e democratização do acesso aos serviços financeiros.
Desafios:
- Há um paradoxo entre a personalização e a privacidade do usuário, que pode ser mitigado por meio do letramento digital
- O avanço da digitalização e da personalização aumenta também a superfície de ataque, ampliando os riscos relacionados à segurança da informação.
💡Corporate Venture Capital em ação: o que grandes empresas estão aprendendo com startups
Como grandes corporações estão se aproximando de startups para desenvolver novos produtos e modelos de negócios? A pergunta foi respondida por representantes da Natura, Vox Capital e Banco do Brasil (BB) em um bate-papo sobre os desafios e oportunidades dos programas de Corporate Venture Capital (CVC).
A conexão entre empresas e os negócios de base tecnológica impulsiona a inovação nos ambientes corporativos tradicionais, promove novas oportunidades e acelera o desenvolvimento de soluções inovadoras. Mas para a colaboração ter sucesso, os lados envolvidos precisam de preparo, clareza de propósito e um entendimento profundo das dinâmicas do mercado.
Cases apresentados
Natura
- Mais de 20 anos de experiência em inovação
- Foco na preparação cultural da organização para colaborar com startups
- Importância do letramento interno, principalmente da diretoria executiva, sobre venture capital
Vox Capital
- Ênfase na necessidade de equilibrar retorno financeiro, ganho estratégico e impacto socioambiental
- Para startups, parcerias com grandes empresas são oportunidades de escala, desde que exista sinergia de propósitos
Banco do Brasil
- Utilização de ferramentas de inovação aberta para aproximar áreas internas dos fundos de venture capital
- Criação de pontes estratégicas com startups alinhadas aos objetivos do banco.
O Web Summit Rio 2025 mostrou que o futuro da tecnologia já está em curso, impulsionado por Inteligência Artificial, energias renováveis, transformação digital e inovação centrada no usuário. De bancos a indústrias, passando pelo setor elétrico e pela mobilidade urbana, o evento reforçou o papel estratégico da inovação aberta, das parcerias com startups e do uso inteligente de dados para acelerar mudanças sustentáveis e inclusivas.
Mais do que tendências, os debates mostraram que inovação, quando bem estruturada e culturalmente integrada, se traduz em valor para negócios, sociedade e meio ambiente.