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CESAR .


2017-08-06T00:00:00

Negócios


CESAR Summer Job: Uma iniciativa que fomenta a inovação nas organizações e aproxima a academia do mercado

por Aldrêycka Albuquerque

No início não tínhamos a visibilidade da abrangência e do impacto que o programa poderia ter, mas logo nas primeiras edições percebemos que existia algo de valor ali, muito maior que o CESAR. Algo que impactava a vida dos alunos, organizações e também a nossa.

Quando há cerca de cinco anos um aluno do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) bateu na nossa porta buscando patrocínio para sua turma de Robótica, nós do CESAR poderíamos ter explicado que patrocinar turmas de faculdade não é bem o que costumamos fazer aqui no centro de inovação. Mas o rapaz estava tão resoluto e tão apaixonado pelos experimentos de robótica que tinha interesse em conduzir, que resolvemos dar a ele uma chance. Ele passaria suas férias no CESAR, trabalhando em algum experimento ou prova de conceito na área de que gostava, e em contrapartida, o pagaríamos uma ajuda de custo, que ele poderia usar para investir no seu grupo de robótica. Seis semanas depois, nos surpreendemos com a qualidade do experimento que foi feito e com a dedicação que o jovem de vinte e poucos anos demonstrou, saindo de São Paulo para passar o verão em Recife. Essa havia sido de fato uma experiência interessante, mas até então, isolada.

No verão seguinte surgiram mais cinco alunos do ITA interessados em passar as férias “brincando” de fazer experimentos legais nos nossos laboratórios, recebendo a tutoria dos nossos especialistas. Aí uma luzinha acendeu em nossas mentes: “Ei, isso pode dar SAMBA!”. Do jeito que o programa foi sendo montado, não só os alunos tinham a oportunidade de se envolver em projetos que eram ao mesmo tempo instigantes e voltados para o mercado, tendo o suporte, mentoria e toda a infraestrutura do CESAR, como também estávamos trazendo oxigênio novo para dentro da organização. Estávamos aprendendo através dos processos de aprendizagem daqueles jovens brilhantes. Observávamos a curva rápida de aprendizado e as diferentes abordagens utilizadas para se chegar à resolução de um problema real, e até levávamos aqueles alunos para testar protótipos no meio das ruas do Recife Antigo. Aquilo tudo era mais que divertido: Tinha potencial! Nos anos seguintes, passamos a abrir turmas semestrais para que alunos de qualquer Universidade e dos mais diferentes cursos pudessem participar do programa. Se multidisciplinaridade era o que regia o CESAR, também seria este o princípio do CESAR Summer Job.

Mas como a inovação geralmente só é identificada em retrospecto, só agora, cinco anos depois, ao chegarmos à nona edição do Summer Job é que conseguimos avaliar a verdadeira extensão e impacto de um empreendimento que nasceu com tão pouca pretensão. Podemos citar pelo menos dois grandes motivos pelos quais o programa tornou-se nossa menina dos olhos. E estes motivos, não por acaso, também são dois grandes problemas que ainda bloqueiam o caminho do Brasil rumo à uma cultura nacional de inovação. São eles: O abismo entre a academia e o mercado, e a falta de espaço para tentar, errar e aprender.

O abismo entre a academia e o mercado

Há mais de vinte anos o CESAR vem batendo nessa tecla: Existe um abismo entre o que é ensinado nas Universidades e o que é esperado (e demandado) pelo mercado. Isso sempre foi tão preocupante para nós, que tínhamos esse propósito resumido em um quadro, na entrada principal da nossa sede: “Realizar a transferência autossustentada de conhecimento entre o mercado e a academia”. E não por acaso o caminho era do mercado para academia, e não o sentido contrário. O CESAR nasceu com a proposta ousada de levar a celeridade e as demandas do mercado para dentro da academia, e de lá, extrair as soluções e os especialistas que de fato atendessem a essas exigências. E esse não é um discurso vazio, pois, ao rodar turma após turma do Summer Job, percebemos o quanto os alunos chegam sedentos por sair do laboratório, da ‘caixinha da experimentação controlada’, e dos exemplos estapafúrdios vindos dos livros da biblioteca, que a defasagem tecnológica muitas vezes faz com que rapidamente percam a relação que algum dia tiveram com o mundo real. Ou seja, “na prática, a teoria é outra!”, como costumamos falar aos alunos que chegam desavisados da enorme diferença entre a academia e o mercado.

No CESAR Summer Job, os estudantes saem de suas Universidades em qualquer parte do Brasil (e agora, do mundo!) para passar seis semanas em um programa imersivo que muitas vezes se apresenta como um “choque de realidade”. Eles recebem um desafio, problema, ou oportunidade real vindo direto de uma das empresas patrocinadoras do programa e têm disponível espaço e apoio do CESAR para estudar o problema e construir a solução que eles acreditam ser a melhor para ele, considerando o curto tempo disponível e as demais restrições naturais do mercado. Eles passam a entender que, para atender ao “timing de mercado” é preciso, a todo tempo, lidar com a falta de recursos, administrar o tempo e o orçamento limitados e ainda manter a qualidade do que é produzido. É essa “pressão” que muitas vezes os alunos desconhecem estando dentro da Universidade, que tentamos encapsular nas seis semanas do programa.

Montamos um modelo similar ao que usamos diariamente na condução dos nossos projetos, onde cada turma (com quatro alunos cada) recebe um desafio de um sponsor (empresa patrocinadora do programa), e esse sponsor faz o papel de cliente, apresentando suas expectativas e avaliando continuamente o que está sendo desenvolvido. Apoiando a turma de alunos, temos um time de tutores especialistas do CESAR para orientá-los durante todo o processo de entendimento do problema, passando pela escolha da melhor abordagem, até a prototipação e validação. Cada turma é orientada por três tutores: Um de design da experiência do usuário (UX), outro de negócios e um tutor técnico, fechando assim, as três dimensões primordiais para se gerar inovação: Gente, Negócios e Tecnologia. O papel desses tutores é apenas orientar e tirar dúvidas, pois os alunos são estimulados a serem protagonistas e independentes. Não existe ninguém para fazer o papel do professor que cobra se ele fez a tarefa de casa ou se o projeto está pronto, e também não existe extensão de prazo ou segunda chamada: Seis semanas após o início do programa, impreterivelmente, cada turma precisa apresentar seu projeto. É uma experiência profissional real, e os alunos precisam se adaptar a esse modelo.

A falta de espaço para tentar, errar e aprender

Uma vez perguntamos para um empresário o que faltava para ele começar a liderar um processo de inovação na sua empresa. Ele rapidamente respondeu: “Vocês me garantirem que vai dar certo!”. É esse o modelo mental da maioria das empresas brasileiras. O risco precisa ser constantemente minimizado, e a inovação só tem espaço para ser trabalhada se vier com um laudo técnico de que vai dar certo e gerar um rápido retorno do investimento. Como sabemos que esse é o extremo oposto da inovação, fica claro que ainda temos um longo caminho para de fato introduzirmos a cultura da inovação no Brasil. O espaço iterativo para ciclos rápidos de “tentar, errar e aprender” é extremamente necessário para que os riscos da inovação sejam minimizados, ainda que nunca excluídos. Porém, muitas vezes esses espaços requerem muito mais persuasão e poder argumentativo para fazê-los acontecer dentro da empresa, do que apenas investimento financeiro.

As empresas patrocinadoras do Summer Job sentem a necessidade de realizar pequenas provas de conceito, experimentos que precisam ser validados, mas que às vezes são iniciativas tão diferentes da dinâmica do dia-a-dia, que abrir as portas para que esses experimentos ocorram internamente com as pessoas que já estão envolvidas nas demandas recorrentes da empresa, é uma tarefa quase impossível. Sendo assim, ter a oportunidade de usufruir de espaços de experimentação rápida, fora das limitações e processos rígidos da própria empresa é o grande apelo para que essas empresas participem do Summer Job. Se os experimentos dão certo, as empresas podem investir recursos maiores para o desenvolvimento completo da solução testada. Porém, se as provas de conceito não se mostrarem muito viáveis, elas podem rapidamente mudar o rumo e tentar coisas novas, tendo então aprendido com aquela experimentação. A fórmula é simples e efetiva, mas às vezes é difícil abrir esses espaços internamente nas empresas, dentro de um “transatlântico a todo vapor e cheio de grandes mestres da navegação”.

Por outro lado, alunos que ainda estão nas Universidades chegam com uma visão totalmente nova para problemas muitas vezes antigos que as empresas possuem, e eles não se limitam ou temem propor soluções ousadas. Essa troca entre os alunos e as empresas patrocinadoras do Summer Job é vista por nós como uma via de mão dupla; é oxigênio novo para as empresas e é realidade de mercado para os universitários, e o que sai dessa troca é sempre surpreendente.

Hoje nos encontramos rumo a nona edição do CESAR Summer Job. Se pensávamos que o programa teria a abrangência e o impacto que tem hoje? É claro que não tínhamos essa visibilidade. Mas logo nas primeiras edições, percebemos que tinha algo de valor ali, muito maior do que o CESAR. Algo que impactava a vida dos alunos, organizações e também a nossa. Impacta a vida dos alunos, já que temos diversos casos de estudantes que são contratados após o programa pelas empresas patrocinadoras, pelo CESAR, ou são rapidamente absorvidos pelo mercado. Também impacta as organizações que patrocinam o programa, pois a cada edição, mais delas se interessam em participar, e após as seis semanas, muitas partem para o desenvolvimento das provas de conceito geradas. E principalmente, o Summer Job faz com que, mais do que nunca, estejamos cumprindo nossos objetivos estratégicos de gerar impacto no ecossistema local, seja em Recife, Sorocaba, Curitiba ou Manaus, onde estamos presentes, seja no restante do Brasil. O Summer Job se tornou tão efetivo, inclusive internamente, que hoje ele já faz parte do nosso processo de contratação anual de estagiários. Ou seja, são exemplos que comprovam que inovar também tem a ver com enxergar de maneira empreendedora as oportunidades. E foi com o Summer Job que comprovamos na prática, que a inovação tem o poder de mudar simultaneamente as organizações e a vida das pessoas.

Aldrêycka Albuquerque é Gerente de Negócios do CESAR, onde trabalha há mais de sete anos com design de estratégias de negócios e marketing. Está envolvida com o CESAR Summer Job desde a sua concepção e hoje é a product owner do programa dentro do instituto. É Administradora por formação, com MBA em Gestão de Negócios pela UNICAP e atualmente mestranda em Design pela CESAR School.

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